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REFLEXÕES SOBRE OS MUNDIAIS DE GINÁSTICA AERÓBICA (FIG) E O DESEMPENHO DOS MEDALHISTAS DO BRASIL

  • Foto do escritor: Borelli
    Borelli
  • 23 de abr. de 2020
  • 18 min de leitura

Atualizado: 9 de set. de 2020


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DOS PRIMÓRDIOS ATÉ A ERA FIG


Quando o assunto é Campeonato Mundial de Ginástica Aeróbica é inevitável não considerar dois momentos muito distintos... Pré e pós dezembro de 1995! E por que?


Antes da inclusão da Ginástica Aeróbica na Federação Internacional de Ginástica (FIG), o campeonato mundial da modalidade reconhecido pelos atletas, treinadores, países e admiradores do esporte era o World Aerobic Championship promovido pela International Competitive Aerobic Federation (ICAF) que posteriormente se tornou a Association of Competitive Aerobic Federation (ANAC).


Esse evento teve sua primeira edição no final dos anos 80 e se estende até os dias atuais. O auge deste momento foi no intervalo entre os mundiais de 1990 (março em San Diego) e o último antes da entrada da FIG, em agosto de 1995 (também em San Diego) onde os vencedores eram considerados os melhores do mundo na modalidade, os autênticos e reconhecidos campeões mundiais.


Neste período literalmente o Brasil “deitou e rolou”, foram 11 campeões do mundo e 9 medalhas divididas entre prata e bronze.


Como preparador físico tive a felicidade e o privilégio de ter treinado 4 dos 11 campeões mundiais (os individuais Marcio de Oliveira e Greice Kershe e as duplas Roberson Magalhães- Marilene Andrade e Eduardo Raupp-Regiane Silva) e 3 vice-campeões do mundo (a individual Claudia Gomes, a dupla Roberson Magalhães- Marilene Andrade e o trio Fernanda Freitas-Stella Cobucci-Giuliane Freitas), ou seja, das 20 medalhas brasileiras colaborei na conquista de 7, uma honra!


Em 1995 um episódio remodela os caminhos da Ginástica Aeróbica no mundo com a inclusão da modalidade pela FIG tornando-se a partir dali oficial na entidade e com a real possibilidade de chegar ao patamar olímpico, tudo isso com a chancela do Comitê Olímpico Internacional (COI).


Em dezembro de 1995 a FIG promove oficialmente o seu primeiro campeonato mundial de Aeróbica e a partir dali passa a ser o único reconhecido e válido para a modalidade.


A seguir analisaremos o quanto isso impactou nos grandes resultados que a Aeróbica nacional havia conquistado até aquele momento.

UMA ANÁLISE NO DECORRER DOS CICLOS OLÍMPICOS


As grandes e principais alterações dos regulamentos de cada esporte acontece no ano posterior a Olímpiada, ficando vigente durante 4 anos até chegar a próxima, isso é conhecido como ciclo olímpico.


A análise a seguir será realizada em cima de cada ciclo olímpico, levando em conta algumas considerações no decorrer dos 15 mundiais da FIG já realizados (1995-2018) conforme a figura (1) abaixo.


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Do primeiro mundial (1995) até o de 2000 a competição era anual e com 4 provas inclusas : Individual masculino, individual feminino, dupla mista e trio.

A partir de 2002 o campeonato passa a ser disputado a cada 2 anos e além das 4 provas anteriores mais uma é acrescida, a de grupo com a participação obrigatória de 6 ginastas. Esse protótipo vai até o mundial de 2010.


Em 2012 a novidade é a inclusão de mais 2 provas (Step e Aero Dance) e em 2014 a prova grupo passa a ser composta obrigatoriamente por 5 atletas. Essas alterações são mantidas até o derradeiro campeonato mundial em 2018.


O último mundial do ciclo atual (2017-2020) que seria realizado em maio deste ano (2020/Baku-AZE) foi adiado em função da pandemia do coronavírus e não existe até o momento uma nova data prevista.


Como poderemos observar diversos países (20) conquistaram medalhas ao longo dos mundias da FIG, para uma visão mais pedagógica a divisão foi feita com a inclusão das nações medalhistas em 5 polos globais de acordo com sua posição geográfica: Europa Ocidental (Espanha, França, Itália, Áustria , Suécia e Islândia), Leste Europeu ( Romênia, Rússia, Hungria, Bulgária e Ucrânia), Ásia (China, Coréia, Japão e Mongólia), América (Brasil, México e Chile) e Oceania ( Austrália e Nova Zelândia).


Como o Brasil não têm tradição e nem grande participação nas provas Step e Aero Dance, e para que possamos fazer comparações com outros países de forma equiparada com nossa realidade, o número de medalhas foi analisado de 2 maneiras: apenas com as provas mais tradicionais da Ginástica Aeróbica ( individuais feminino e masculino, dupla mista, trio e grupo) e com a inclusão de mais 2 provas, Step e Aero Dance junto das convencionais.


Segue abaixo o número de medalhas por polos em cada ciclo nas duas situações. (Figuras 2 a 6)

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No primeiro ciclo (1993-1996) fica evidente a supremacia da América (representada exclusivamente pelo Brasil neste momento) junto ao Leste Europeu, ambos com 7 medalhas. A Europa Ocidental vem um pouco atrás ao lado da Ásia (4 medalhas) e a Oceania isolada no final com 2 conquistas de pódio.


A partir do segundo ciclo (1997-2000) uma tendência começa a ficar evidenciada e praticamente a curva não se altera mais (ou muda muito pouco) quando se analisa a hegemonia do Leste Europeu em praticamente todos os ciclos, com exceção de 2009-2012 para as provas tradicionais e de 2009-2012 / 2013-2016 incluindo o Step e o Aero Dance.

Muito interessante também é observar o equilíbrio total da Europa Ocidental e Ásia no primeiro e segundo ciclo (1993-1996/1997-2000). Isso muda a favor do polo europeu no ciclo 2001-2004 perdurando a vantagem até 2009-2012, tanto nas provas tradicionais e também quando o Step e o Aerodance são inclusos.

Nos 2 últimos ciclos (2013-2016 / 2017-2020) a situação se inverte e a Ásia supera os europeus até o ciclo atual (2017-2020) em ambos cenários envolvendo as provas.

Com relação à América, acabou perdendo bastante poder de fogo desde o segundo ciclo (1997-2000) afastando-se dos principais polos e ficando apenas na frente da Oceania em quase todos os outros, com exceção de 2009-2012.


Finalizando esse primeiro ensaio é importante evidenciar a vantagem da Ásia quando a disputa envolve o Step e o Aero Dance, das 24 medalhas disputadas nestas provas os asiáticos conquistaram 13, contra 8 do Leste Europeu e apenas 3 da Europa Ocidental. América e Oceania não medalharam nesse quesito até o último mundial (2018).


Nos 2 próximos quadros serão apresentados tanto a somatória como a distribuição de todas as medalhas dos polos da Ginástica Aeróbica no transcorrer de todos os ciclos olímpicos.

As figuras 7 e 8 apresentam o total de medalhas (Total Medalhas sem e com Step-Aero Dance/ Total Medalhas Ouro sem e com Step-Aero Dance) conquistado por cada polo no decorrer dos 15 mundiais disputados.

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O Leste Europeu apresenta o maior número de medalhas em todas as situações (Total Medalhas sem e com Step/Aero Dance e Total Medalhas Ouro sem e com Step/Aero Dance), a Ásia supera os outros 3 polos nos quesitos Total Medalhas com Step/Aero Dance e Total Medalhas Ouro sem e com Step/Aero Dance ficando apenas atrás da Europa Ocidental no Total Medalhas sem Step/Aero Dance. A América somente fica a frente da Oceania mas em todas as situações.


Sem dúvida alguma após todo esse diagnóstico realizado é muito factível entender a força dos principais polos da Aeróbica de acordo com os números apresentados até agora e que nos impulsiona a corroborar com a classificação abaixo. (Figura 9)

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LEVANTAMENTO DE MEDALHAS POR PAÍSES


Depois da investigação do número de medalhas por polos vamos esmiuçar um pouco mais e entender como é a performance de cada país dentro do universo dos mundiais.


O critério anterior será mantido, ou seja, as Medalhas Total e de Ouro serão averiguadas da mesma forma: somente com as provas mais tradicionais (individuais feminino e masculino, dupla mista, trio e grupo) e com a inclusão das provas Step e Aero Dance junto das demais.


É importante salientar a hegemonia da Romênia que, além de liderar o número de medalhas em qualquer um dos 4 quesitos (Total Medalhas sem e com Step/Aero Dance - Total Medalhas Ouro sem e com Step/Aero Dance) é o único país a medalhar em todos os mundiais, notável!

NÚMERO TOTAL DE MEDALHAS CONQUISTADAS POR PAÍS NO DECORRER DOS MUNDIAIS FIG (SOMENTE COM AS PROVAS TRADICIONAIS E COM STEP/AERODANCE INCLUSOS)


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Examinando inicialmente o ítem Total Medalhas sem Step-Aero Dance, além do domínio da Romênia, surpreende a diferença dela para o segundo colocado (França) que é simplesmente o dobro (48 x 24), demostrando muita propriedade nas estatísticas relacionadas as conquistas.


Neste mesmo quesito, logo após a Romênia surge um segundo pelotão formado por países com mais de 20 medalhas cada um, França (24), China (22) e Rússia (21) e na sequência um terceiro bloco na casa das 15 medalhas composto por Espanha(15), Brasil(15) e Coréia(14) acompanhados de forma um pouco mais afastada por um conjunto de nações com menos de 10 medalhas integrado por Hungria(9), Japão(8), Itália(8), Bulgária(7) e Austrália(5).


México (3), Nova Zelândia (3), Áustria (2), Suécia(2), Chile(1) e Islândia(1) finalizam o último grupo dos países medalhistas.


Concluído o balanço do Total Medalhas sem Step/Aero Dance é importante notar a ótima colocação do Brasil, em quinto lugar junto da Espanha, tendo a Coréia colada com 1 medalha a menos e abrindo uma boa distância da sétima colocada Hungria com 9 medalhas e do Japão e Itália com 8 cada um.


Quando a análise é feita computando o Total Medalhas com Step/Aero Dance a Romênia se mantêm soberana no primeiro posto, e como já escrito anteriormente, os asiáticos se beneficiam nessa situação sendo os protagonistas das maiores mudanças. China agora com 30 medalhas, passa a França e assume a segunda colocação no geral, e a Coréia também se favorece avançando ao quarto lugar, a frente de Espanha e Brasil.


Com relação ao número de medalhas o Brasil não tem alteração nesse tópico e permanece junto da Espanha em quinto na classificação geral.


Um fator importante a ser evidenciado é que em ambas situações temos representantes de países dos polos do Leste Europeu, Europa Ocidental, Ásia e América entre os 5 primeiros colocados, demonstrando um certo equilíbrio nesse aspecto.

NÚMERO TOTAL DE MEDALHAS DE OURO CONQUISTADAS POR PAÍS NO DECORRER DOS MUNDIAIS FIG (SOMENTE PROVAS TRADICIONAIS E COM STEP/AERODANCE INCLUSOS)


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Na averiguação do ítem Total Medalhas Ouro sem Step/Aero Dance a Romênia segue dominando com 15 medalhas de ouro, na sequência e muito próximos entre eles estão Espanha em segundo com 10 medalhas, Brasil na terceira posição com 9 ouros e a China com 8.

Logo depois Japão (6), Rússia (5) e Coréia (4) formam um grupo aproximado. França com 3 junto à Itália e Bulgária com 2 medalhas cada país compõem mais um agrupamento. E, em um último conglomerado, Hungria, Austrália, México, Nova Zelândia e Áustria todos com 1 única medalha de ouro conquistada.


Relevante ressaltar também a colocação do Brasil no terceiro lugar, um feito de excelência!


Quando se avalia o Total Medalhas Ouro com Step/Aero Dance, apesar da Romênia se manter com certa tranquilidade à frente (15), a China é a maior beneficiada indo a 11 ouros, passando para a segunda colocação e ultrapassando Espanha e Brasil que vão para terceiro e quarto posto respectivamente.


A Rússia também obtêm vantagem nesse cenário, superando o Japão e melhorando seu ranqueamento, indo da sexta para a quinta colocação.


Da mesma forma que na análise anterior, em ambas situações temos representantes de países dos polos do Leste Europeu, Europa Ocidental, Ásia e América entre os 5 primeiros classificados.


O Brasil mesmo perdendo uma posição, fica em quarto e continua com bastante propriedade no patamar dos grandes medalhistas mundiais.

JUSTIFICANDO UM FATO


Com os números apresentados até agora constatamos a superioridade da Romênia em todos os pontos analisados no assunto participação e conquista de medalhas nos campeonatos mundiais e poderemos averiguar que isso não ocorre simplesmente por sorte ou fatalidade.


A citação desta autora portuguesa da Universidade de Coimbra relata bem uma das prováveis causas.



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Com esse verdadeiro funil envolvendo massificação, formação, especialização e alto rendimento fica evidente a notável cultura da Ginástica no país.


Através deste complexo processo de seleção as ginastas que não conseguiram atingir o incrível e seletíssimo patamar exigido na Artística, ou mesmo ainda apresentando um alto nível mas com idade um pouco mais avançada, certamente encontraram na Aeróbica uma ótima forma de se manterem competindo com excelente performance internacional na modalidade, estão aí os resultado nos mundiais para cooperar com essa afirmação.


Com o decorrer dos anos certamente a formação e especialização na Ginástica Aeróbica romena deve ter passado a depender menos da Artística e desta maneira cada vez mais ginastas genuínas de Aeróbica vão se formando dentro das principais características da modalidade.


Sem contar as publicações científicas, fundamentais para a compreensão e evolução de qualquer esporte e que através do meu levantamento bibliográfico destacam o Leste Europeu com muita produção acadêmica sendo a Romênia um dos principais colaboradores desse valioso acervo.

DESEMPENHO BRASILEIRO NO DECORRER DOS MUNDIAIS

A discussão agora será sobre o comportamento dos medalhistas brasileiros no transcorrer dos 15 campeonatos do mundo pela FIG.


Como já aferido pudemos observar que o Brasil encontra-se em uma excelente posição no quadro de medalhas mas é fundamental atentar para a cronologia de suas conquistas pois esta pode mostrar a tendência, perspectiva e probabilidade de manutenção, evolução ou queda de posição a partir das próximas edições dos campeonatos do mundo.


A figura 13 mostra o número de medalhas brasileiras de ouro, prata e bronze de acordo com cada prova em todos os mundiais (1995-2018).

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A prova individual feminino é a mais vitoriosa com 7 medalhas (4 ouros, 2 pratas e 1 bronze), na sequência vêm trio com 4, sendo 3 ouros e 1 bronze e finalizando com o individual masculino (1 ouro e 1 bronze) junto da dupla, com 2 também (1 ouro e 1 prata).


Dos 15 medalhistas brasileiros 9 levaram o ouro com as vitórias nas seguintes provas e respectivos anos: individual masculino Mario Américo (1995), dupla Pedro Faccio-Erica Faccio (1995), trio Ruy Faria-Gilberto Lopes-Ary Marques (1995), individual feminino Isamara Secatti (1996), trio Rodrigo Martins-Ibsen Nogueira-Admilson Vitorio (1999), trio Marcela Lopez-Marina Lopez-Cibele Oliani (2004) e individual feminino Marcela Lopez (2006/2008/2010).


A dupla Pedro Faccio-Erica Faccio (1996) e a individual feminino Isamara Secatti (1998/2000) são os responsáveis pelas 3 medalhas de prata, e novamente Isamara Secatti no individual feminino (1995) junto de Claudio Franzen (individual masculino/1996) e do trio Marcela Lopez-Marina Lopez-Cibele Oliani (2008) fecham o cenário com os 3 bronzes.


Depois da apresentação dos medalhistas vamos observar a distribuição de seus feitos ao longo dos tempos de acordo com a figura 14.

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De acordo com o gráfico acima fica evidente 3 momentos distintos correlacionados com a participação da Aeróbica brasileira nos mundiais: de 1995 a 2000, período de maior abundância de medalhas, tanto no total (10) quanto nas de ouro (5).


Um pequeno hiato surge em 2002 sem nenhum pódio e rapidamente uma retomada acontece através de um novo período de conquistas de 2004 a 2010, com 5 medalhas no total e 4 de ouro.


O último e nebuloso ciclo têm início em 2012 e perdura até o último mundial (2018), sem nenhuma medalha para o Brasil nesse intervalo.

Um fator muito importante a ser observado é que quando comparado o primeiro momento (1995-2000) com o segundo (2002-2010) há uma queda pela metade do número de medalhas (10x5) mas se tratando dos ouros ocorre praticamente a manutenção de uma excelente marca (5x4), algo extremamente positivo.


Já de 2012 a 2018 o retorno com relação aos resultados é bastante negativo. (figura 15)

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O que realmente causa preocupação, além da escassez de conquistas do último momento dos mundiais disputados (2012-2018) é quando examinamos as 10 medalhas do primeiro momento (1995-2000) aonde 6 delas foram ganhas por diferentes ginastas e no caso das 5 de ouro, todas diversificadas.


Quando estudamos o segundo momento (2004-2010) notamos que das 5 medalhas conquistadas apenas 2 são por diferentes ginastas e provas e se tratando dos 4 ouros, também somente pelas mesmas 2.


Isso deixa claro que no primeiro momento, independente do número grande de medalhas e dos ouros, não mostrávamos uma dependência de resultados voltados a um pequeno nicho de atletas, havia bastante diversidade e possibilidades de chegar ao pódio.


No segundo momento isso não se sustenta mais, vencemos sempre com as mesmas atletas e logo após elas encerrarem suas participações nos campeonatos do mundo (última atuação em 2010) não obtivemos mais nenhuma medalha nos 4 mundiais disputados a partir dali.


É muito importante observamos as figura 16 e 17 e vermos a força da Aeróbica brasileira nos 2 primeiros mundiais da FIG (1995/1996), além de tantos medalhistas distintos fomos bi campeões do mundo por equipe, fantástico!

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LIGANDO OS PONTOS


Como já explanado no início deste post o Brasil era um dos maiores protagonistas do World Aerobic Championship (ICAF/ANAC) e também tinha excelentes resultados no Suzuki World Cup, torneio internacional de grande repercussão chancelado pela International Aerobic Federation (IAF) com sede e competições no Japão.


Na minha concepção o Brasil aproveitou muito bem esse primeiro momento da Ginástica Aeróbica na FIG.

Para os países do Leste Europeu, por exemplo, que sempre foram muito fortes nas Ginásticas, ainda apresentavam falta de ambientação com o conteúdo e principais características da modalidade.

Eram excelentes ginastas, em sua grande maioria vindos da Ginástica Artística, tinham muito facilidade no critério Execução e na realização dos elementos de maior pontuação do código mas pecavam no Artístico pois literalmente estavam compreendendo o que era e pedia a Aeróbica.


E o Brasil em função disso usufruiu e imperou nas 2 primeiras edições do mundial da FIG aliado ao background de tantos títulos obtidos nos anos anteriores mas que com o passar do tempo foi perdendo espaço por um conjunto de fatores, sendo um deles muito relevante: o grande número de ginastas de alto nível técnico dos principais polos (Leste Europeu, Europa Ocidental e Ásia) que começaram a entender mais tecnicamente a modalidade e treinar com a diretriz de serem os melhores do mundo, e como talento e estrutura não faltavam, o resultado foi extremamente satisfatório para eles como demonstraram os números já aqui apresentados.


Sem contar o regulamento que passava a direcionar uma Aeróbica um pouco diferente, privilegiando cada vez mais elementos de dificuldade, execução, transições acrobáticas e com o conteúdo artístico coreográfico menos valorizado...Ponto para eles!

PERPSECTIVAS BASEADA EM NÚMEROS


Depois de tantos dados e valores expostos é possível especular algumas situações baseado na cronologia de conquistas, não só do Brasil, como também de outros países que ameaçam a nossa posição no quadro de maiores medalhistas no mundial da FIG.


Já averiguamos a situação brasileira e ficou evidente que estamos em um período de carência que perdura por uma década, não vamos analisar nesta publicação se temos ginastas com condições de atingir um pódio nos próximos mundiais e nem o excelente trabalho exercido dentro das realidades distintas do nosso país com a modalidade.

É fundamental levarmos em conta que a Ginástica Aeróbica nacional de alto rendimento é mantida dentro de um cenário diversificado composto por clubes, universidades públicas, escolas, entidades privadas entre outros investindo e realizando o possível e impossível dentro de suas possibilidades por vezes bastante limitadas e com responsabilidades de retorno bem distintas pois cada tipo de entidade têm suas prioridades e regras próprias que nem sempre colocam a alta competição no primeiro plano.


Por também não termos um conhecimento detalhado sobre o que acontece a fundo na Ginástica Aeróbica em outros países e também pelas incertezas que deveremos ter em relação a tudo após o coronavírus ser controlado vamos focar então apenas nas estatísticas e curvas apresentadas até o mundial de 2018 para nossas projeções.


Para iniciar as nossas conjecturas é fundamental tomar conhecimento da figura 18 que apresenta os países que mais medalhas conquistaram nos 2 últimos mundiais (2016/2018), eles serão nosso ponto de suposição para que possamos dissertar um pouco sobre aqueles que estão mais próximos de nos ultrapassar em algum critério ou que apresentaram algo bastante relevante no desenrolar da história.

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O CASO CHINA


É muito interessante investigar o peculiar comportamento chinês no histórico dos mundiais. Até o sétimo mundial (2002) a China não havia conquistado uma única medalha, chegando neste feito apenas em 2004 com uma de bronze.


Na minha concepção um fator decisivo fez a China mudar de patamar, a realização do mundial de 2006 na casa deles, na cidade de Nanjing. É evidente que nos 2 anos que antecederam essa competição muito deve ter sido investido na preparação de uma safra de excelentes ginastas que trouxeram resultados bastante significativos daquele evento: 2 ouros, 2 pratas, 1 bronze e o país campeão por equipe.


A partir dali a China passou a ser uma nova potência no cenário internacional mantendo-se nesse estágio até os dias atuais. Quando comparamos a curva de conquistas entre Brasil e China nota-se dois extremos muito bem definidos nesse quesito. (Figura 19)

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Quando emparelhamos os 2 países, levando em conta os 3 momentos da Aeróbica brasileira já discutido anteriormente (1995-2000/ 2004-2010/ 2012-2018) é nítido o inverso da situação.


Enquanto o Brasil cresce no início e apresenta uma queda na sequência, considerada até certo ponto natural, acaba despencando de forma vertiginosa e extremamente preocupante a partir de 2012, já a China saí do nada, explode e mantém o ritmo, passando o Brasil em número total de medalhas, independente se avaliarmos apenas as provas tradicionais ou quando o Step e Aero Dance entram em cena. A figura 20 explana isso de forma bem minuciosa.

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Até 2004 o Brasil havia conquistado 11 medalhas e a China apenas 1, indicando uma vantagem brasileira de 10 medalhas. Nos 6 anos seguintes os 2 países continuam medalhando mas já com uma vantagem grande dos chineses nas conquistas (10 x 4) e nós ainda nos encontrávamos à frente mas com a diferença caindo para mais da metade (4).


Até 2014 a China credita mais 5 medalhas e nós nenhuma, e nesse mesmo ano somos ultrapassados pela primeira vez por eles ficando com uma medalha de desvantagem.


Em 2018 os números realmente assustam, continuamos sem subir ao pódio enquanto eles arrebatam mais 6 medalhas nos deixando bem atrás com 7 a menos.


Quando a análise envolve Step e Aero Dance o quadro agrava bastante e chegamos a ficar com uma diferença de 15 medalhas, 100%!


Na disputa pelo maior número de ouros, quando consideramos apenas provas tradicionais, ainda estamos com 1 medalha de vantagem sobre os chineses mas se ambos países mantiverem a mesma performance dos 2 último mundiais seremos ultrapassados até 2022.


Ao incluirmos também a contagem das medalhas de ouro advindas do Step e Aero Dance a China empata conosco em 2014 e nos ultrapassa na sequência em 2016.


PAÍSES CONCORRENTES


CORÉIA


E com relação a outros postulantes, como fica nossa atual situação perante eles nos 2 próximos mundiais?


Vamos começar a presumir então, encostado em nós temos a Coréia com apenas 1 medalha a menos quando computamos somente as provas tradicionais (individuais feminino/masculino, dupla, trio e grupo).


Seguindo o raciocínio proposto se ambos países mantiverem suas performances dos 2 últimos mundiais a Coréia ficará junto a nós no total de medalhas (15) pois enquanto ela conquistou uma única nesse período, nós permanecemos com a mesma quantidade. Com o Step e Aero Dance agregados eles já estão melhores colocados que nós.


Quanto as medalhas de ouro, de acordo com as probabilidades ainda ficaremos a frente por um bom tempo.


JAPÃO


O Japão apresenta um cenário interessante, se recuperou e encontra-se em ascensão. A figura 21 mostra o confronto entre brasileiros e japoneses do início até 2018.

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O Japão, também como o Brasil, não têm tradição alguma nas provas de Step e Aero Dance, motivo pelo qual vamos apenas apresentar os dados envolvendo as provas tradicionais.


Os gráficos deixam bem claro a recuperação e o melhor momento do Japão nos mundias a partir de 2012, têm um total de 8 medalhas com 5 ouros conquistados. O Brasil com 15 e 9 respectivamente se encontra na dianteira mas o rendimento japonês nos 2 últimos mundiais foi excelente, com 4 medalhas sendo 3 de ouro.


Se ambas seleções mantiverem o mesmo desempenho ficaremos ainda bem a frente dos japoneses no quesito total de medalhas mas o Japão empatará conosco quando equiparado com as de ouro.


RÚSSIA


Para encerrar essas considerações a Rússia é um país que me chama muito a atenção, não só pelo seu rendimento bastante uniforme e equilibrado no transcorrer dos mundiais como também pela força do país no que se refere ao esporte como um todo.


A curva muda de forma bem positiva quando as provas de Step e Aero Dance são computadas pois a Rússia é um dos países que mais conquistou medalhas nesta circunstância (6) só ficando atrás da China com 7.


A figura 22 exemplifica as situações descritas acima.

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Fico muito curioso em saber o que sucederia se o campeonato do mundo fosse disputado alguma vez na Rússia, fato que ainda não ocorreu no transcorrer desses 15 mundiais.


Na minha concepção poderia acontecer o mesmo fenômeno que ocorreu com a China em 2006, ou seja, por ser um país com um potencial esportivo imenso, ter a cultura muito enraizada das Ginásticas de altíssima qualidade, uma escola muito bem desenhada quando o assunto é preparação física e trabalhar bem com o conceito atual da Ginástica Aeróbica penso que os russos se preparariam como nunca e teriam possibilidades de passar até a ser a grande protagonista da Aeróbica mundial.

Enquanto isso não ocorre, e se os russos mantiverem o mesmo comportamento dos 2 último mundiais, continuariam bem a nossa frente em qualquer critério que seja no Total Medalhas mas ainda assim ficariam atrás do Brasil no ítem Total Medalhas Ouro sem Step/Aero Dance e empatados quando incorporados Step/Aero Dance.


FECHANDO AS ANÁLISES


Espero que tenha ficado bem claro que essas conjecturas aqui expostas são apenas pressuposições baseadas nos números, curvas de desempenho e histórico que cada país apresentou no decorrer dos mundiais, isso de forma alguma é referente a qualquer tipo de previsão ou certezas e sim um exercício de raciocínio que pode servir como parâmetro para futuras investigações ou até como mais uma ferramenta de prognóstico de análise técnica.


Mas para findar o assunto de forma efetiva com a situação de nosso país é fundamental então se despir de qualquer teorização ou possível diagnóstico e compreender que o fato da manutenção da ótima posição do Brasil no ranking mundial até hoje é devido ao grande rendimento do passado que resultou em muitas conquistas mas que infelizmente não vêm se repetindo nesses últimos 10 anos.


O interessante é que fomos tão vencedores que mesmo hipoteticamente não vencendo mais por um tempo ainda prolongado nos manteremos em posição de destaque graças ao efeito residual dos nossos grandes medalhistas que escreveram toda essa magnífica história na Ginástica Aeróbica mundial, isso é fato!

FINALIZANDO COM RELEVÂNCIA A QUEM MERECE


Todos os medalhistas, independente da cor do seu triunfo, devem sempre ser tratados com todas as honras prestadas àqueles que construíram uma imagem fantástica do Brasil na Ginástica Aeróbica.


Parabéns Mario Américo, Pedro e Érica, Ruy, Gil e Ary, Ibsen, Rodrigo e Admilson , Marina e Cibele pelos ouros conquistados, assim como mais uma vez Pedro e Érica, agora por a prata no peito e a Claudio Franzen e Marcela, Marina e Cibele pelos bronzes...Vocês foram gigantes!


Mas gostaria de deixar um registro especial a 3 pessoas em particular por suas histórias construídas dentro da modalidade...Primeiramente para a rainha da Aeróbica brasileira, Marcela Lopez!


Ganha seu primeiro mundial em 2004 na prova trio junto da irmã Marina Lopez e de Cibele Oliani (em 2010 conquista o bronze nesta mesma prova) e depois, com uma sucessão de conquistas nos mundiais de 2006, 2008 e 2010, torna-se além da tri campeã do mundo na prova individual feminino, uma sumidade dentro da Aeróbica nacional e internacional.


Marcela é lembrada e reconhecida até hoje, não só por suas conquistas que resultaram em 4 ouros e 1 bronze, como também pela grande ginasta que foi. Show!


Mas se temos uma rainha parece dispormos também de uma princesa...Isamara Secatti!


Competindo na prova individual feminino, conquista sua medalha inaugural de bronze no primeiro mundial da FIG em 1995. Em 1996, com o ouro no peito, é a primeira campeã do mundo no individual feminino representando o Brasil.

Em 1998 leva a prata no individual e volta ao pódio novamente na segunda colocação em 2000, na mesma prova.


1 ouro, 2 pratas e 1 bronze, uma bela história e grande contribuição para a Aeróbica brasileira, sem dúvida alguma!

E para finalizar essa publicação quero enaltecer uma profissional em particular, que além de ter sido a técnica de Marcela e Isamara, foi responsável também pelas preparações dos trios campeões mundiais Marcela Lopez-Marina Lopez-Cibele Oliani e Ibsen Nogueira-Rodrigo Martins-Admilson Vitorio e do bronze também do trio Marcela,Marina e Cibele...Me refiro a treinadora Luciana July.


Das 15 medalhas brasileiras conquistadas nos mundiais, Luciana têm 9 em seu currículo, isso equivale a respeitosa porcentagem de 60%!


Quando o assunto então é referente a medalhas de ouro, das 9 que o Brasil obteve Luciana July têm participação direta em 6, atingindo a excepcional marca de quase 70%! Fantástico!


Sem dúvidas, Luciana July é a grande treinadora brasileira dos mundiais da FIG...Minhas reverências!


E o Brasil, além de seus medalhistas, sempre se dedica e vai com seu melhor potencial aos mundiais...Parabéns também à todos os ginastas, treinadores, árbitros e entidades que já representaram nosso país em alguma edição do campeonato do mundo, vocês escreveram junto aos medalhistas essa linda biografia da Aeróbica verde e amarelo no cenário internacional...


Que venham novos tempos e uma verdadeira retomada para mais conquistas!


 
 
 

11 comentários


Claudia Gomes E Borelli
Claudia Gomes E Borelli
15 de abr. de 2021

Parabéns pelo "exercícios de raciocínio" que certamente contribuirá para todos treinadores, técnicos e coreógrafos amantes da ginástica aeróbica . 👏👏👏

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Borelli
Borelli
09 de set. de 2020

Valeu Duda, muito obrigado! Espero de coração que esse blog possa auxiliar, um pouquinho que seja e de alguma maneira, com nossa querida Aeróbica! Beijão e estamos juntos!

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mepoli
02 de set. de 2020

Borelli quanta contribuição Parceiro da aeróbica!!! Além de tanto conhecimento e sabedoria, vc generosamente compartilha!!! Maravilha de estudos, textos, com tanta verdade e coração!!!

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Borelli
Borelli
02 de mai. de 2020

Oi Isa, como você está, tudo bem? Fiquei muito feliz com sua visita, você foi gigante e quem não te conhece têm que saber de seus feitos, sem dúvida alguma! Que bom que gostou, grande beijo e fica com Deus

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isasct
30 de abr. de 2020

Borelli!!!!

Incrível ler essa história da aeróbica (divulgação da Ma Lopez hein?! 😉) !!!

Que delícia receber todo esse carinho seu e poder ter contribuído um pouquinho para tudo isso ao lado dessa técnica (Lu July) tão especial!!! Obrigada pela lembrança e homenagem!!! 🥰🥰🥰

Com carinho,

Isa

Isamara Secati 😉


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