A RELAÇÃO CRUCIAL DA AERÓBICA DE COMPETIÇÃO COM O FITNESS NOS ANOS 80/90 NO BRASIL
- Borelli
- 8 de mar. de 2020
- 5 min de leitura
Atualizado: 23 de abr. de 2020

A Aeróbica de Competição teve uma relevância que foi bem além da simples apresentação de uma nova opção esportiva dentro do cenário nacional em meados dos anos 80. Escrevo isso com propriedade pois fui testemunha física e ocular deste período tão especial e peculiar.
E qual foi a importância da modalidade além de ser uma nova proposta de esporte? Dentro da minha ótica a Aeróbica de Competição serviu como um impulsionador da indústria do Fitness no Brasil e verificaremos o porquê desta afirmação.
Nessa época ocorreu o surgimento das grandes academias e elas necessitavam de um canal importante que desse o recado de um novo conceito conhecido por Fitness, para que um maior número de pessoas despertasse o interesse em praticar exercícios físicos de forma direcionada e orientada, buscando as academias e aumentado a aderência em seus quadros associativos.
A partir de meados dos anos 80 surgem as primeiras competições de Aeróbica por aqui. Os competidores, em sua grande maioria, eram professores e alunos de academia e as coreografias eram baseadas nas aulas de ginástica aeróbica com uma pequena inclusão de elementos de força, saltos e flexibilidade.
Em 1987 a competição de maior importância nacional nesse período dava seus primeiros passos, o famoso Campeonato Aeróbica Brasil.
O interesse pela modalidade passou a crescer muito e acabou chegando forte na grande mídia a partir de 1989.
A revista Boa Forma, ícone das publicações sobre exercícios físicos e qualidade de vida dos anos 90, fez uma boa cobertura do campeonato brasileiro em 1989, realizado no ginásio do Ibirapuera que levou um público de milhares de pessoas para acompanhar a competição.
No ano seguinte a revista subiu o patamar de cobertura do evento e dedicou um encarte especial sobre o Aeróbica Brasil daquele ano e junto disso a Rede Bandeirantes transmitiu ao vivo, não só a competição como também promoveu diversas inserções na programação dominical de um famoso programa esportivo da época que ficava no ar do período matutino até o início da noite, o Show do Esporte, com entrevistas de atletas, treinadores, donos de academia, patrocinadores entre outros...Era muita exposição na mídia, um verdadeiro achado.
Certamente isso chamou muito a atenção daqueles que tinham a necessidade de algo para impulsionar o Fitness no Brasil e trazer mais público para as academias, e a partir daí ter uma equipe de Aeróbica de Competição passou a ser imprescindível para os que necessitavam expor sua marca de forma de forma direta, e sem dúvida alguma o momento era aquele, tanto que praticamente todas as grandes academias tiveram suas próprias equipes competitivas como um verdadeiro instrumento de marketing.
Eu comecei a trabalhar na musculação da academia Competition em 1988 e era visível ainda uma certa resistência de uma parte do público feminino com relação ao trabalho com pesos, e as equipes de Aeróbica ajudaram nesse aspecto pois as atletas que compunham os times de competição treinavam também na musculação e a exposição dos seus corpos bem trabalhados dentro das próprias academias, tv e revistas iniciou uma certa forma de quebra de paradigma e foi visível o aumento de mulheres procurando essa opção de treinamento a partir dali.
Conforme o Aeróbica Brasil ganhava mais veiculação de imagem e notoriedade os campeonatos foram crescendo e o grande público presente provava que o esporte agradava e a “febre” passava de São Paulo para o Brasil, através das etapas espalhadas pelo país e interior de São Paulo.
E para elevar ainda mais o interesse por esse esporte estavam aliados os excelentes resultados obtidos no decorrer dos campeonatos mundiais, a Aeróbica nacional era sinônimo de ouro, de pódio.
Com todo esse frenesi quantos atletas o esporte abrigou…Alguns por amor, outros simplesmente para utilizá-lo como um passaporte Fitness, pois ser campeão ou atleta de ponta na Aeróbica, até meados da década de 90, era sinônimo de reconhecimento e portas abertas, tanto no mercado nacional como internacional deste segmento.
Claro que o talento individual foi fundamental para que as oportunidades fossem revertidas em realização profissional, por isso fico feliz de poder afirmar que a geração vencedora dos profissionais que modernizaram e ditaram os caminhos da vanguarda do Fitness no Brasil projetou-se competindo ou se envolvendo de alguma forma com a Aeróbica de Competição naquele momento.
Essa verdadeira lua de mel com as academias e a mídia foi de 1989 até 1993. Nesse período, a Aeróbica apareceu na televisão (Rede Bandeirantes) em cadeia nacional durante praticamente o domingo inteiro em 1990 e 1991, com isso a exposição da marca das academias e patrocinadores era enorme, retorno garantido para todos e as equipes de competição se multiplicavam pelo país.
Em 1993 a Rede Globo assumiu a Aeróbica de Competição e passava as matérias sobre as etapas competitivas no programa Esporte Espetacular, aumentando ainda mais a visibilidade do esporte.
A partir de 1994 a modalidade começou a perder espaço na televisão e passou a aparecer somente por um tempo curto em um programa no final da noite de domingo na Rede Globo que infelizmente não citava mais nem o nome da academia nem tampouco dos patrocinadores.
Isso fatalmente foi diminuindo o interesse de investimento, do outro lado também as academias já estavam satisfeitas com o retorno dos anos anteriores pois já haviam atingido seu objetivo baseado no aumento do número e aderência de praticantes (inclusive do sexo feminino, que era a prioridade lá atrás).
Com isso o Fitness ganhava cada vez mais espaço através de seus produtos e novidades que vinham do mercado internacional junto da ampliação e número de feiras, congressos e eventos voltados para as academias. Acoplado a isso, em 1995 com a incorporação da Aeróbica de Competição (conhecida a partir dali como Ginástica Aeróbica Competitiva) pela Federação Internacional de Ginástica (FIG) o único campeonato mundial reconhecido pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) era o da FIG e a Aeróbica mudou totalmente o seu perfil baseado em um rígido código de pontuação da mesma forma que nas modalidades olímpicas da Ginástica (como Artística e Rítmica, por exemplo).
Neste novo quadro a exigência físico-técnica do esporte aumentou bruscamente e as academias, além de já estarem operando full time com várias opções de aulas e atividades, foi deixando de disponibilizar espaço para o treinamento sem contar que não havia também condições adequadas para suprir essa nova Aeróbica que naturalmente foi saindo das academias e ficando mais integrada aos ginásios de Ginástica Artística e Rítmica.
Como um último suspiro dessa época de ouro, foi implatada a Aeróbica Teen que envolvia a competição de crianças e adolescentes tendo um grande sucesso nos seu 2 primeiros anos e perdendo força também pois as exigências subiram do mesmo jeito que para a categoria adulto.
O Aeróbica Brasil encerra suas atividades no final dos anos 90 e a Ginástica Aeróbica Esportiva, agora como esporte chancelado pela Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) começava a dar seus primeiros passos no Brasil, que será assunto de uma próxima postagem.
Penso ter ficado bem claro a importância da Aeróbica de Competição para as academias e profissionais que buscavam a implementação do conceito Fitness em nosso país, foi uma verdadeira ponte entre o produto e o público alvo.
Parabéns à Aeróbica de Competição e todos os envolvidos, certamente contamos e implantamos juntos a história do Fitness no Brasil.
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